Presidente fala das prioridades da sua Gestão para os próximos três anos
A trajetória do engenheiro agrônomo João Pedro Valente soma mais de quatro décadas de experiência profissional na vida pública e privada, dedicação e trabalho que lhe renderam dois títulos profissionais. O atual presidente do Crea-MT é formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), possui Mestrado e Doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Em entrevista para a Equipe de Comunicação do Confea, o presidente do Crea-MT, falou dos desafios já mapeados para os próximos três anos e sua visão do Sistema tecnológico, confira abaixo a entrevista na íntegra.
1 – Neste triênio à frente do Crea, quais os principais desafios já mapeados que demandam esforço e atuação? Eles constam da agenda de prioridades, como serão tratados e quais resultados positivos irão gerar?
Todas as demandas são prioridades, mas a fiscalização e mostrar à sociedade o real papel do Crea Mato Grosso são sem dúvidas, nossas prioridades. No próximo dia 08 de abril, nossa capital completará 299 anos e a fiscalização do Conselho inicia uma fase mais consciente e inteligente. Implantamos recentemente o georrefereciamento para identificar a exata posição geográfica de uma obra ou serviço em andamento e assim modernizar a estrutura de fiscalização nas áreas das Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia. É nesse sentido que queremos avançar e incrementar as ações sempre com a utilização de novas tecnologias. Também temos em nossa agenda de prioridades o fortalecimento das relações com os Poderes Legislativos, Executivos Municipais e Estadual através da nossa Assessoria Parlamentar, buscando inserir o Crea-MT em discussões importantes a exemplo da criação da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), a segunda maior cidade de Mato Grosso, da criação de cargos de assessores técnicos para engenheiros em prefeituras, ou ainda do compromisso do governador do Estado de Mato Grosso em regularizar os salários dos engenheiros em concursos públicos. As entidades de classe, que são a base do Sistema que nos representam no Plenário também são importantes, por isso, propomos uma parceria através de um chamamento público que ainda está em estudo. Estamos modernizando o Regimento Interno do Regional bem como readequando o organograma com nova estrutura organizacional e fluxograma de processos. Estamos implantando o setor de Recursos Humanos que atualmente não existe no Crea-MT pois queremos priorizar o ser humano e fazer uma Gestão pensando nas pessoas que ali trabalham. Da mesma forma, outras inúmeras demandas que aqui não citamos, mas que no dia-a-dia são tão importantes e tratamos com a mesma seriedade.
2 – O senhor acredita que o Sistema Confea/Crea e Mútua demanda uma readequação de seus procedimentos? Por quê? Se sim, qual tipo de reestruturação é necessário e como a gestão do senhor irá atuar neste sentido?
Sim, acredito que o Sistema Confea/Crea e Mútua demanda de readequação. Primeiro por que é um dos maiores do mundo no setor da área tecnológica e também um dos mais antigos e no que pudermos contribuir estaremos presentes. Podemos citar como exemplo a falta de um Sistema Único eletrônico onde os profissionais possam estar cadastrados e possam ser consultados, ou seja um banco de dados nacional. Da mesma forma falta uma ART nacional, processo eletrônico que facilite a vida dos nossos conselheiros. Acredito que atualmente só temos a carteira nacional com chip, porém não temos onde usá-la. Na área da comunicação poderíamos ter ações nacionais também uma vez que os normativos são comuns para os Creas além de eventos comuns para os colaboradores padronizando as ações dos regionais. São algumas sugestões.
3 – Acredita que a integração dos Creas dentro da região geográfica e de forma nacional é importante? Se sim, quais caminhos possíveis, dos pontos de vista institucional e político? Quais vantagens esse movimento pode gerar para o Sistema e para os profissionais do setor?
Com certeza é importante a integração entre os creas de regiões geográficas. Os Creas do Centro-este, por exemplo, têm trocado experiências positivas e isso ajuda com certeza no desenvolvimento de cada um. Seja no fornecimento de um modelo de licitação ou um software ou ainda em situações impares com formas de fiscalizar ou outras demandas institucionais.
4 – Muito se fala na responsabilidade e habilidades dos profissionais registrados no Sistema Confea/Crea como contribuições diretas para o desenvolvimento do Brasil e para a implantação de políticas públicas que levem à retomada do crescimento nacional. Qual a opinião do senhor sobre essa viabilidade?
O Brasil voltou a crescer nos últimos anos e tem se destacado como um dos maiores e mais dinâmicos mercados do mundo. Há diversos obstáculos a ultrapassar, e a base industrial e agrícola brasileira são sólidas e sua força não pode ser desmerecida: basta considerar sua capacidade de resistência a períodos muito difíceis no passado. As mudanças em curso na economia brasileira trazem um conjunto de oportunidades para o país. Primeiramente, estamos nos tornando uma economia diversificada. Um país com presença importante no mercado internacional de commodities; que apresenta um amplo e atrativo em infraestrutura; que possui uma base industrial pronta para dar um salto de qualidade em produtividade e inovação; que continua sua trajetória de inclusão econômica e social. Consolidamos um mercado interno de proporções significativas, que deve tornar o crescimento menos volátil e mais robusto. Em segundo lugar, os desequilíbrios pré-existentes e o atraso relativo do Brasil criam oportunidades para que, com a expansão do investimento, deflagre-se um processo de crescimento da produtividade acima da média internacional. Um aumento forte da produtividade é o caminho para conciliar elevação do padrão de vida da população com competitividade externa e crescimento.
Mas para realizar estas transformações é necessário pessoal qualificado. Este é um ponto de vital importância. Para realizar os investimentos que o país necessita, já existe grande demanda por profissionais competentes e capacitados. É preciso pessoal que seja capaz de gerir e implementar projetos, com iniciativa e com visão estratégica do país. Por exemplo, a China, que investe ao redor de 40% do PIB ao ano e que tem crescido rapidamente nestes últimos 30 anos, forma 190 mil engenheiros por ano. Podemos nos perguntar, o Brasil tem engenheiros suficientes? Pode-se considerar que este é um desafio a ser enfrentado. Hoje, temos um déficit que é avaliado em mais de 150 mil profissionais. Formamos apenas 40 mil engenheiros e temos apenas 6 engenheiros para cada mil pessoas economicamente ativas. Nos EUA e no Japão, esta proporção é de 25 engenheiros por cada mil trabalhadores. E ainda assim empresas como a Apple têm dificuldades para encontrar engenheiros com competências diversificadas, capazes de atuar nas diferentes áreas da empresa, do chão de fábrica à área administrativa. Na China, a produção da Apple precisa de quase 10 mil engenheiros para organizar os seus 200 mil trabalhadores. Seus executivos garantem que levaria meses para se encontrar pessoal deste nível de qualificação nos EUA.
Hoje, é preciso cada vez mais de profissionais que tenham uma formação holística, que sejam capazes de inovar mas que também tenham capacidade de gerenciar e administrar projetos e pessoas. É também necessário que o profissional da área de engenharia conheça a economia do Brasil e do mundo, que seja capaz de pensar em projetos que sejam adequados para um país inserido nesta nova ordem internacional. Ou seja, as perspectivas promissoras que se apresentam ao Brasil dependem muito da formação de engenheiros qualificados, que tenham capacidade de inovar e de construir o futuro do país.
*Equipe de Comunicação do Crea-MT e do Confea.