O engenheiro Florestal Fábio Lüdke, de Aripuanã, fala sobre suas percepções na profissão
O engenheiro florestal Fábio Jean Lüdke, de 38 anos, é natural de Missal (PR) e veio para o Mato Grosso aos 6 anos de idade, com seus pais, que viram no Estado novas oportunidades de crescimento. Aos 19 anos começou a faculdade de engenharia florestal na Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT e, desde o início do curso, se interessou pela área de manejo florestal atraído pela grandiosidade da Floresta Tropical Amazônica. Atualmente Fábio possui um escritório onde trabalha com manejo florestal sustentável; atua na área de licenciamento ambiental de indústrias de base florestal, bem como licenciamento ambiental de propriedades rurais. Quando está fora do trabalho, gosta de estar com sua família e amigos e, com 13 anos de formado, Lüdke nos conta um pouco sobre seu cotidiano e percepções sobre a profissão.
1) Por que motivo optou pela área de engenharia florestal?
As atividades relacionadas à floresta são uma tradição em minha família. Meus avôs, de ambos os lados, trabalharam com extração florestal e industrialização de madeira. Meu pai tinha uma serraria no Paraná e continuou trabalhando nessa área no norte de Mato Grosso até o ano de 1994, quando, ao buscar qualidade de vida morando em Chapada, abriu uma marcenaria que funciona até hoje. Além disso, tenho tio e irmão engenheiros florestais que me motivaram e inspiraram a seguir essa profissão. Assim, desde muito pequeno fui fascinado pelo meio florestal e absorvi todas essas influências. Nunca me imaginei fazendo outra coisa.
2) A partir da formatura, como foram suas primeiras experiências no mercado de trabalho?
Em 2004, quando me formei, fui um dos poucos que já saiu da faculdade empregado, pois queria muito trabalhar, independente do lugar que fosse. Meu primeiro emprego foi em um escritório de engenharia florestal em Machadinho D´Oeste, em Rondônia, atuando na área de manejo florestal. Peguei minha mudança, coloquei em um Uno Mille e fui. Foi uma experiência incrível, sofri no começo pela distância da família, mas aprendi muito. Depois passei em um processo seletivo do SENAI para atuar na área de manejo florestal. Foi quando atuei como coordenador do Projeto Jamanchim (parceria entre o SENAI/Promanejo/IBAMA), disseminando técnicas e boas práticas de exploração de impacto reduzido da floresta. Foi uma grande oportunidade de aprendizado que me proporcionou conhecer quase todos os Estados da Amazônia Legal. Depois disto, fui convidado por um amigo da faculdade para trabalharmos juntos em Aripuanã – um município que sempre apresentou um potencial enorme para o desenvolvimento da atividade florestal, onde finquei raízes.
3) Como tem sido trabalhar com manejo florestal sustentável? Como vê a atividade hoje em Mato Grosso, houve avanço tecnológico?
Gosto da minha profissão e me sinto privilegiado por trabalhar todos os dias na área que escolhi e sempre gostei. Como em toda profissão é preciso dedicação e persistência para alcançar seus objetivos. Assim como em outros ramos da economia, a engenharia florestal, mais especificamente o manejo florestal, também passou por momentos de grande crescimento e expansão. Porém, em meados de 2015, com a crise que se alastrou no Brasil, o setor de base florestal também sofreu, diminuindo significativamente sua produção impactando diretamente o setor produtivo de madeira nativa. Entretanto, a área de manejo florestal, a passos lentos, começa a demonstrar sinais de retomada de crescimento. Com certeza houve avanços tecnológicos na área de manejo florestal. Na minha época de faculdade aprendíamos interpretação de imagens através da fotogrametria e hoje, temos informações cada vez mais atuais e fidedignas com o uso do georreferenciamento e imagens de vários satélites atualizadas frequentemente. Atualmente existem ferramentas que proporcionam agilidade e precisão no processamento de dados, como por exemplo, o programa ArcGIS para a elaboração de imagens de satélite e planejamento florestal.
4) Quais são os maiores desafios desta atuação?
Como técnico posso afirmar que houve alguns avanços referentes à legislação e implantação de sistemas digitais, que diminuíram o tempo de análise dos processos no órgão ambiental, entretanto, a burocracia ainda afeta muito o setor. Outro fator é a dificuldade no fluxo de informações e diálogo entre as diferentes instituições de licenciamento e de fiscalização ambientais, além da falta de interação deles conosco. Precisamos quebrar essas barreiras.
5) Estamos num Estado de grandes dimensões e com muita floresta. Como você vê a situação de Mato Grosso, sempre entre o primeiro ou segundo colocado, junto ao Pará, como maior desmatador do país? Isso atrapalha de alguma forma a sua atuação?
Essa pergunta é interessante, pois são muitos os fatores que contribuem para que isso aconteça e, com certeza, atrapalham a atuação do engenheiro florestal. Vou tentar elencar alguns pontos: primeiro, como já dito, a cultura da burocracia no Brasil e a altas taxas cobradas pelo Governo pelos serviços ambientais, em especial para fazer a exploração (corte raso/ derrubada) de forma legal, o que inviabiliza tal prática para pequenos e médios proprietários rurais com pouco poder aquisitivo, o que leva alguns à prática de desmate ilegal. Por outro lado, a maior parcela dessas estatísticas sobre desmatamento advém de áreas privadas ou públicas, invadidas por terceiros de forma ilegal. Mais uma vez a burocracia para a regularização agrária no Estado, bem como a burocracia jurídica para a retirada de invasores, o que contribuem significativamente para o aumento dessas estatísticas. Outro fator significativo é o desaparelhamento dos órgãos ambientais com relação à fiscalização. O efetivo é muito pequeno para um Estado tão grande, por isso, na maioria das vezes, a fiscalização acontece por que já foi detectado o dano ambiental, quer seja pelo serviço de monitoramento através de imagens ou por denúncias. Porém, o poder de ação é muito lento e quando a equipe de fiscalização chega a campo, o dano já é bem maior, isto quando conseguem chegar. Considero que se houvesse mais fiscalização efetiva a campo, buscando agir antes do conhecimento do dano por parte dos órgãos ambientais, ajudaria bastante a inibir tais práticas. Quando falo em fiscalização efetiva, quero dizer regular, orientando as pessoas como proceder de forma correta para se regularizarem. Tudo isso, com certeza, diminuiriam significativamente os danos ambientais e abriria um leque de serviços ligados à engenharia, não somente ao manejo florestal.
É inegável que tivemos avanços no setor de licenciamento de propriedades rurais, contudo continuamos “engessados”, ainda há muito a se fazer. É preciso simplificar procedimentos, diminuir taxas e impostos, criar mecanismos públicos para fomentar a cadeia produtiva da madeira e do agronegócio, tornando e mostrando que é viável a produção legal para o setor produtivo. Isso aumentaria a competitividade dos produtos de Mato Grosso, aumentando a produção e, consequentemente, a arrecadação do Estado, fomentando toda a cadeia. Precisamos quebrar paradigmas e desburocratizar o setor produtivo, isso certamente refletiria positivamente na nossa área de atuação.
6) Você como engenheiro registrado e habilitado, como percebe a importância de participar de uma entidade de classe?
Em 2005 ingressei na Associação Mato-Grossense de Engenheiros Florestais (AMEF) e desde então, vejo a luta da entidade junto aos órgãos ambientais, ao CREA-MT e outras autarquias do Estado. Hoje possuímos cadeira na Câmara Técnica Florestal do Estado de Mato Grosso e no Conselho de Meio Ambiente do Estado, ajudando e debatendo leis e procedimentos técnicos, sempre buscando e cobrando melhorias para os engenheiros florestais e não somente para os seus associados, mas para todos os engenheiros florestais e o setor produtivo de base florestal. Devido ao grande espaço que conquistou no Estado, a AMEF é uma das entidades de classe ligadas a engenharia florestal mais atuantes do Brasil e, juntamente com outras Associações de engenheiros florestais da região amazônica, procura dirimir esses entraves burocráticos e enfrentar os desafios inerentes a profissão e ao avanço das atividades de base florestal.
7) A partir de sua experiência, que conselhos você daria aos profissionais que estão entrando no mercado de trabalho atualmente?
A engenharia florestal tem um campo muito vasto de atuação, indo da produção de mudas, reflorestamento, plantio e recuperação de áreas degradadas, licenciamento de propriedades rurais, manejo de florestas nativas e plantadas, exploração e transporte florestal, chegando até a tecnologia e industrialização da madeira. Assim, o recém-formado não pode ter medo de abraçar oportunidades desde o primeiro emprego. Cada oportunidade de trabalho tem que ser vista como forma de adquirir experiência prática: quanto mais, melhor. Mas não podem se esquecer de sua responsabilidade profissional e com o meio ambiente. É importante gostar de estar em contato com o meio ambiente e ter disponibilidade para trabalhar no interior.