Arquiteta na obra, por que não?
Ouve-se muito que a mulher busca incessantemente pela igualdade de gênero, na profissão, no reconhecimento, no salário e outras situações onde há comparações entre ser mulher ou ser homem. Na arquitetura, por exemplo, as mulheres dominavam o mercado, pois é trabalho “tipicamente feminino”. Isso mesmo, na sociedade, a cultura dita qual o melhor trabalho, definido pelo gênero. Prova disso, desde crianças ouvimos: menino obrigatoriamente brinca de carrinho e futebol e meninas brincam de boneca e casinha. Ou que arquiteto ou engenheiro civil nunca ouviu: arquitetura é para mulher e engenharia é para homem?
Águas que estão passando e se transformando, pois já verificamos uma crescente de arquitetos homens, capazes como as mulheres de abraçar todas as atribuições pré-definidas pela sociedade para ser arquiteto. E para que haja uma quebra de paradigma culturalmente enraizada ou uma reformulação do antigo, situações extremas que requerem ações inéditas como uma crise na economia é o estopim para essa evolução. Só assim a sociedade sai realmente da comodidade, tanto de pensamento como na atitude.
Por exemplo, muitas mulheres dispensadas de seu trabalho fixo precisaram se reinventar. Hoje existem muitas azulejistas, pedreiras, pintoras, encanadoras e eletricistas. Elas fazem tudo o que antes era posto como trabalho exclusivamente masculino.
No canteiro de obras, ainda nova, recém formada, via nos olhos dos pedreiros ou mestre de obra que eu era uma intrusa, uma ‘dondoca’ que passava na obra só para colocar o dedo onde não era chamada. Chamavam-me de ‘menina’ e o engenheiro civil recebia o título de ‘doutor. Os apelidos eram diversos e os olhares sempre presentes e penetrantes. Entendi com o tempo que era eu que não passava confiança, era eu que me auto-rotulava como sendo incapaz de gerir uma obra com a mesma capacidade de um engenheiro. Foi então que fui me moldando, sempre estudando, me aperfeiçoando e assim sendo mais confiante e firme com as palavras e atitudes, mas sempre respeitando o próximo. Hoje, após uma década de erros e acertos, chego à conclusão que o pior limitante não é o gênero e sim EU mesma. Sou o meu pior inimigo. A distinção de gêneros é mera desculpa para quem se auto-sabota. Logicamente, a sociedade precisa, sim, discutir o tema para trazer pessoas à consciência.
Por fim, já fomos rotuladas como donas de casa, provedoras do lar, sexo frágil, feministas. Hoje digo que estamos na Era Libertadora, pois podemos ser quem quisermos ser, como quisermos da maneira que considerar melhor, sozinhas ou acompanhadas. O importante é a liberdade de sermos Mulheres Livres.
Juliana Beatriz Mayumi Tanaka é arquiteta e urbanista e conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU/MT)